domingo, 30 de agosto de 2020

Ser melhor


 Guimarães Rosa disse que viver é um rasgar-se e remendar-se. Mas e quando a gente é mais rasgado do que remendado? Bom, nesse momento a gente silencia, distancia e passa pelo processo da cura, ou do reequilíbrio, a gente faz o que é necessário para continuar vivo.

Tem sido assim.
Tem sido difícil.
Nunca fomos tão rasgados. Nós. Todos nós. 
Historicamente estamos vivendo o que pouco fora vivido até então.
Estamos vivendo a dor de nos despedirmos massivamente de pessoas, pessoas como eu e como você, gente com história, com amores, com amigos e família. Gente.
Tem sido complicado assimilar, entender.
Tudo está exposto, principalmente a nossa vulnerabilidade.
A gente entendeu, como sociedade, ou pelo menos deveria ter entendido, que as nossas mazelas estão afloradas.
Houve quem mentiu.
Houve quem manipulou.
Houve quem desviou, roubou, superfaturou.
Houve quem sucumbiu.
Houve quem perdeu pouco, quem perdeu algo, quem perdeu alguém, quem perdeu tudo.
Houve quem tentou não se abater, e não conseguiu.
Houve falta de empatia, de respeito, de humanidade.
A gente tem aprendido de uma maneira muito crônica, que numa parcela muito significativa, talvez aquela parcela que poderia tomar decisões que melhoraria a vida da grande população, mora apenas o egoísmo e a sede pelo poder.
A gente também está vendo solidariedade.
A gente está vendo que de forma única, alguns sistemas são fundamentais, principalmente para a saúde da nossa gente.
A gente vê uma doença que não faz distinção, mas percebe também que pobre e o preto morre mais.
A gente se dá conta que ciência, nunca é demais.
Que a fé sem obras não vale nada, e que se a obra da fé é a mentira e a morte, não há flor que resista. Nem família. 
Fomos colocados sem roupa, em frente a nossas fragilidades.
O que fizemos? O que estamos fazendo?
Tem muita gente aprendendo com o que está acontecendo, muita.
Tem gente que não.
Meu amor e gratidão a quem entendeu.
 Independentemente da posição que você ocupa no enfrentamento do que faz sofrer, seja o que faz você sofrer, seja o que faz o mundo sofrer, tenha esperança de dias melhores e nunca se esqueça de olhar para o que acontece e aprender com isso, se desenvolver à partir disso, e ser melhor porque decidiu ser melhor e porque o mundo precisa de gente melhor.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Equilibrar

Extremo.
É assim que estão nos mostrando como devemos nos posicionar: ou de um lado ou de outro.
A cultura do extremismo, vezes explicita, vezes velada, tem um grande e negativo efeito: ele promove a fragilidade ou inexistência do debate, e com isso a intolerância e todos os frutos ruins vindos dela.
Ou você é de direita ou de esquerda. E quando você assume um dos lados obrigatoriamente se fecha, deixa de dialogar e passa a odiar tudo e todos relacionados ao outro lado.
Ou você ama o cantor sensação, ou você odeia.
Ou você é à favor do programa de TV da temporada ou é odiosamente contra.
Ou desse lado ou daquele!
Você precisa ser contra isso!
Você precisa odiar aquele grupo!
Não dialogue! Não compensa!
Eles não prestam, eles são burros, eles são imorais!
E vivendo nas extremidades da vida a gente esquece que primordial mesmo é o respeito.
Que uma pessoa pode até ser de esquerda, mas só há uma esquerda porque há uma direita. E o respeito alicerça um dialogo saudável entre ambos.
Você pode até não gostar do cantor sensação, mas há quem goste. Fazer o quê? Respeitar!
Desconstruir o extremismo em busca de um equilíbrio.
O equilíbrio está no meio, na integração das partes, e não num oposto ou outro.
Tenha as suas convicções, defenda-as, porém lembre-se sempre que a sua verdade não pode ser imposta a ninguém. Que respeitar, dialogar, testemunhar, causa muito mais impacto do que tentar se sobrepor de maneira violenta e superficial sobre as ideias do outro.
Ganha muito mais quem busca o equilíbrio.
Ganha a gente, quem convive com a gente, ganha o mundo!

Pense nisso!

domingo, 29 de outubro de 2017

Dos clichês da vida..

Dentre as coisas que a vida vai ensinando para gente, há lições que não são tão boas de se aprender.
Há lições que nascem do amadurecimento, e amadurecer não é tão simples. Amadurecer dói, machuca, e não acontece de uma hora para outra, acontece num processo longo, silencioso, que só se justifica no final.
Comigo não tem sido diferente.
Eu amo gente. Pessoas. Gosto de conviver com elas, de observá-las, de aprender com elas.
Acontece que estamos sempre impactando a vida uns dos outros, e os impactos mais marcantes estão na reação da nossa não ação. Como assim, não é só a ação que provoca uma reação? Em relações interpessoais não. A não reação gera um impacto tremendo, absurdo, dolorido.
Passar por fases difíceis todo mundo passa. Umas provocadas pela gente mesmo, outras que fogem ao nosso controle. Nesses momentos, o que a gente precisa é saber lembrar daquele pensamento que diz que "tudo na vida é temporário" ou daquele versículo que diz "que o choro vem a noite, mas a alegria ao amanhecer", ambos os pensamentos, o oriental e o cristão mostram a efemeridade dos acontecimentos, o que me é concreto hoje, amanhã não é mais.
Mas como a gente se vira até o amanhã chegar? É aí que está! É nesse momento que se entra no tal processo de amadurecimento. 
Ao contrário da maioria das pessoas eu não tenho lições inspiradoras e cheias de otimismo sobre as minhas adversidades.
Eu prefiro falar do fel. 
E o meu fel é a indiferença.
Como pode, num mundo de ajudas, ter de se passar pela escuridão sozinho?
Shakespeare escreveu: "E você descobre que não importa o quanto você se importa, algumas pessoas simplesmente não se importam." E não é nem em referência a - não se importam -  porque vieram com esse defeito, elas se importam, mas se importam só consigo mesmas.
Das coisas que aprendi por esses meses:
Se alguém te entrega uma tempestade interior, é porque ela confia em você, não trate esse drama como algo banal. Minhas jóias precisam de cofres de aço e não de gelo.
Quem quer ajudar não diz: "Qualquer coisa me liga!". 
Uma mensagem de WhatsApp não substitui contato pessoal.
Nunca discorra sobre os seus atos heroicos para ajudar seus amigos para um amigo que você sabe, está passando por um momento diferente, mas ruim também. É cruel.
Dizer: "Vou rezar por você" é lindo, romântico e um real presente vindo de pessoas não tão próximas, agora aqueles que convivem com você, que se atrevem a ser amigos, que tem relações mais estreitas, o tal "vou rezar por você" tem um efeito mais benéfico para o emissor do que para o receptor, e não estou desprezando o ato da oração não, longe de mim pensar isso, mas é tão narcotizante dizer para o outro que está rezando por ele ou por algo, narcotizante porque quem o diz se sente fazendo algo de fato. Sim, todos precisamos de oração, não há nada mais lindo do que fazer uma prece por alguém, do que encher o coração de bondade e mandar essa energia ao céu na esperança de que atinja o objeto da nossa oração, porém, perdoe-me, não é o suficiente. O meu xará disse lá na Bíblia: "A fé sem obras é morta.", isto é, fé precisa de ação. Entendeu o meu ponto? Não adianta rezar e não agir.
A vida tem tantos clichês, e é muito engraçado se deparar com cada um deles, mas sim, é na dificuldade que a gente descobre quem é quem na vida da gente.
Mais uma fase praticamente concluída.
Mais lições aprendidas.
Mais observações realizadas.
As palavras acima não compõe um desabafo, compõe sim constatações particulares. Minhas. Só minhas.

domingo, 24 de setembro de 2017

Tornando mais fácil...

Há quem diga ao contrário, mas se prestarmos atenção vamos nos dar conta do quanto é difícil viver.
A gente sempre tem um plano e a vida descaradamente, muda tudo.
Haja vigor para recomeçar.
Haja maturidade para entender.
Haja pernas fortes!
Acontece que se tem algo em que somos bons de verdade é em recomeçar.
Cada amanhecer é um recomeço.
A gente, diante dos novos ciclos da vida, enche o coração de esperança e vai.
A questão é: não se vive só de esperança.
A vida é ação.
E para agir, para caminhar em busca das nossas metas precisamos de uma série de armas e ferramentas. Eu não quero me atentar a todas agora, apenas uma, a que pode fazer qualquer caminho ser menos duro: o amor para com o outro.
Seja qual a direção em que você esteja indo, ame.
Seja qual a sua meta, coloque amor no trajeto.
Seja qual for o número de pessoas com quem você convive e se relaciona, dê amor.
Lembre-se, quem caminha ao seu lado, ou perto de você passa por batalhas que na maioria das vezes você nem imagina.
Respeite. Ame. Entenda. Demonstre.
Num mundo onde cada vez mais as pessoas são egoístas, seja diferente.
Vai uma verdade:
Numa vida tão concorrida, de lutas diárias tão intensas, é compreensível quando esquecemos de quem somos por dentro e passamos a agir de maneira mecânica, desprovida de afeto.
Pegue o sentido oposto.
Numa selva onde o tempo todo estão tentando nos convencer que não somos bons o bastante, competentes o bastante, bonitos o bastante, cheios de sucesso como deveríamos, seja bálsamo a quem você ama. Lembre sempre às pessoas que você convive que elas são especiais, são talentosas, são admiráveis e quanto você as ama.
O mundo já tem juízes demais.
O mundo já tem depreciadores demais.
Se for para ser alguém para quem você convive, seja quem os coloque para cima, e não o contrário.
Só o amor pode curar as rachaduras do mundo. 
Ame.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Certeza

Ontem me ocorreu que na vida, certo mesmo, é que somos sozinhos, que não importa quantas pessoas conhecemos pelo caminho, quantos amigos julgamos ter feitos, quantos amores conquistados, a experiência da vida é silenciosa e solitária.
Por mais que nos esforcemos a pensar que não, que na hora que mais precisarmos teremos amparo, que na hora do medo teremos alguém para segurar a nossa mão, creia em mim, não funciona bem assim na prática.
A vida é de dentro para fora, e ninguém realmente consegue alcançar o que há dentro da gente.
A dor que mais dói é aquela que a gente esconde.
É revelador compreender que lá fora tudo continua sem a gente. O dia continua bonito, as agendas continuam a ocupar pessoas, o trânsito a correr, só você parou, só você se engrugiu e desapareceu por um momento, e daqui a pouco pode desaparecer para sempre.
Promessas de amor romântico! Talvez o amor romântico seja uma das maiores mentiras que já contamos, e vivemos, e passamos para frente.
Não há romantismo na dor, ela é seca, e corta a gente como lâmina, lentamente.
Não há romantismo na solidão, ela é silenciosa e enlouquecedora.
Mas a vida é um grande clichê: a gente não entende o outro até passar por algo parecido, a gente valoriza quando não tem mais, e assim por diante...
Eu sempre foi um idealista romântico. Eu sempre acreditei que o amor demonstrado poderia salvar o mundo de alguém, ou ao menos torná-lo melhor. Hoje não sei...
O que sei: as piores experiências da vida são vividas no nosso íntimo, enquanto as pessoas que amamos estão ocupadas demais.
Não reclamo, constato.
Não peço.
Vou continuar a lidar com os meus demônios, como sempre, porém com novas certeza, solitárias e únicas certezas.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Escrevendo...

Eu gosto de escrever. Sempre gostei.
Não sei se escrevo bem ou não, só sei que quando escrevo coloco para fora o que sinto.
Sim, a gente escreve sobre a gente mesmo, não precisa mentir.
Nossos sonhos, nossas frustrações, nossos demônios.
Há períodos em que escrever é genuíno, fácil, natural. Há outros momentos onde, por mais que se queira, nada vira palavra.
Tem que estar em crise. Eu escrevo quando estou em crise. Penso que coração machucado grita mais alto, e assim fica mais fácil de ouvir.
Sobre dor, sobre amor, sobre futuro. Misturo tudo e coloco num blog.
Não por ter necessidade de expor, mas porque sei que lá no blog está guardadinho, em ordem, e acessível, para quando eu quiser retomar.
Tem vezes que leio desde a primeira publicação, desde o primeiro textos. Alguns sinto vergonha, confesso, porém lendo, consigo identificar exatamente os momentos da vida por qual estava passando ao escrevê-los. Faz bem.
Perceber as mudanças ou as não mudanças da vida gera reflexão.
Como não reconhecer a si mesmo imerso nas palavras que o seu coração disse?
É curador!
E por precisar ser curado, por querer me conhecer, e querer cada vez mais dar voz a um coração que não cansa de se machucar, sigo escrevendo.
Do que escrevo entendo, e me moldo, dia após dia.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Sobre desistências

A gente sonha.
A gente luta.
A gente cria uma meta e trabalha por ela.
Acontece que durante o caminho, esbarramos em tanta dificuldade que nos indagamos sobre seguir ou não em frente.
Apegar-se a dura estrada que ainda há pela frente assusta, amedronta, porém olhar para a dura estrada já percorrida deve despertar em nós o sentimento oposto, deve despertar em nós a reflexão de como fomos fortes até aqui.
Esse é o cenário ideal, claro. Mas e no cenário real, como funciona?
Como reagir quando a vontade é de deixar tudo?
Como administrar o sentimento de incapacidade?
São tantos por quês que a gente trava, paralisa.
Mas eu penso, e olha que passo noites inteiras pensando sobre coisas, que precisamos, no nossa caminho, entender a diferença entre as concessões e as desistências.
Para cada escolha que fazemos na vida, acabamos abrindo mão de outro caminho, de outra escolha de outra oportunidade. E isso é bom, é maduro, é inteligente, é concessão.
Em contrapartida, do outro lado da história estão as desistências. E desistir é fadiga, é entrega de pontos, é não querer lidar mais, e querer enterrar algo. Desistir não é  algo bom, porque nunca sabemos , ao desistir, se não estamos cortando justamente o fio que nos mantém de pé.
Não desista do amor.
Não desista de amar.
Não desista das pessoas.
Não desista de tornar o seu mundo um lugar melhor.

Não desista.